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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Apresentação do Blog


  Sempre conto essa história para meus colegas, sobre o dia em que meu cérebro foi chacoalhado e eu vi microbiologia de um outro jeito. Aconteceu no meu primeiro ano de doutorado, na aula de Environmental Evolution ministrada pela cientista que eu tinha a maior admiração: Dr. Lynn Margulis. Ela tinha um microscópio associado a uma tela de TV, a aula era sobre comunidades microbianas e cianobactérias. Ela pegou uma gota de água de dentro de um pequeno recipiente formado pelas folhas de uma bromeliaceae (a familia do abacaxi), colocou numa lâmina e pronto,  vimos o que tinha naquela água. Minha reação: credo, está tudo contaminado!


     O que havia acabado de observar era uma comunidade microbiana, cianobactérias eram abundantes e fáceis de ver ao microscópio, mas dava para diferenciar uma infinidade de células de todos os tamanhos e formas naquela lâmina, coisas se movendo para todo lado. Em todo meu treinamento anterior em microbiologia eu me orgulhava de ter uma "boa mão" para obter culturas puras. Aquelas que todo aluno de microbiologia conhece, contendo só uma espécie de bactéria, sem "contaminação" com outras espécies de microrganismos indesejados. Acredito que minha obsessão pela cultura pura tenha suas raízes na microbiologia de Pasteur, Koch e demais contemporâneos da teoria do germe. Conceito extremamente importante em microbiologia clinica e geral. Foi assim que eu fui treinada e acredito que quase todos os microbiologistas brasileiros da minha geração também o foram. Olhar pela primeira vez uma comunidade microbiana e entender que essa mistura de microrganismos é o normal na natureza foi transformador.

     Com o tempo eu comecei a me interessar sobre o que mais havia nesse mundo, o que os microrganismos estão fazendo pelo planeta afora. Hoje meu interesse é a diversidade microbiana, especialmente o que as pessoas tem chamado de matéria escura microbiana (microbial dark matter). Eu não inventei esse termo. No meu entender, a tal matéria escura (dark matter) em astrofísica significa a região no universo que não é observado, em que não se sabe bem o que tem lá, estou certa? Esse termo é uma analogia com a diversidade microbiana ainda desconhecida, os tais 99% das espécies bacterianas que os cientistas acreditam que ainda não conhecemos, não sabemos como cultivar (Marcy et al., 2006).

     Esse é um espaço para eu colocar textos para os meus alunos, coisas que uso em sala de aula e outras que aconteceram em sala; mas é também para todos que quiserem audaciosamente ir aonde nenhum microbiologista jamais foi

  
Microscopia de contraste de fase de uma espécie de Paenibacillus.
Essa foto é da minha aluna de doutorado,Rosiane Costa (UCB).
     Achamos que foi uma tentativa de contato da bactéria. 
                         Nós te amamos também, bactéria ..

                                 


Referência para o Microbial Dark Matter: 

Marcy, Y., Ouverney, C., Bik, E.M., Losekann, T., Ivanova, N., Martin, H.G., Szeto, E., Platt, D., Hugenholtz, P., Relman, D.A., and Quake, S.R.  (2007). Dissecting biological ‘‘dark matter’’ with single-cell genetic analysis of rare and uncultivated TM7 microbes from the human mouth. PNAS 104:11889-11894.  


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