Eu já sabia que havia apenas uma
reportagem em português na internet. Dentre as informações que eles precisavam
encontrar eu tinha 3 principais: nome de uma bactéria do ouro, como fazemos
para cultivá-las e como podemos ficar ricos com elas. Acho que eles aprenderam
outras três coisas: que o Wikipedia em português é incompleto, que reportagens
na internet são copiadas e que tem muito mais informação em inglês.
Eu escrevi o texto a seguir, e usei
essas bactérias como exemplos em várias aulas ao longo do semestre.
As bactérias
chamadas de alquimistas
Em
abril de 2013 foi publicado um artigo na revista “Nature” que originou uma
série de reportagens sobre a bactéria alquimista, ou seja, uma bactéria capaz
de fazer ouro. Esse trabalho foi realizado por um grupo de pesquisadores nas
universidades de McMaster University e Western University, Ontario, no Canadá.
Essa pesquisa teve início com a descoberta de bactérias que se encontravam em
biofilmes formados sobre grânulos de ouro. O biofilme era composto por várias
espécies de bactérias, mas duas espécies diferentes foram detectadas em maior
abundância: Cupriavidus metallidurans e Delftia
acidovorans.
A
primeira já era bem conhecida pelos pesquisadores que trabalham com
resistência bacteriana a metais pesados. C. metallidurans é
considerada uma bactéria extremófila pela sua capacidade de tolerar
concentrações de metais pesados que são tóxicas para a maioria dos organismos.
Alguns pesquisadores chamam esse tipo de extremófilo de “bactérias
metalofílicas”. Como possui múltiplos mecanismos de tolerância, não foi
surpresa encontrá-la em associação com ouro, uma vez que esse metal também é
tóxico para a maioria das bactérias. C. metallidurans pode proteger-se
do ouro produzindo mais biofilme, assim o ouro fica adsorvido nessa camada de
polissacarídeo e não entra na célula. Outro mecanismo também já foi descrito,
mas ainda não se sabe exatamente como funciona; nesse caso parece que a
bactéria acumula partículas de ouro dentro da célula de forma que ele não
interfira com o seu metabolismo, mas ainda não foi comprovado.
A
bactéria D. acidivorans possui um mecanismo diferente para
evitar que o ouro entre na sua célula. Os pesquisadores demonstraram
que ela produz um peptídeo em resposta à presença de ouro, eles chamaram esse
peptídeo de “delftina”. A delftina se liga ao ouro (na forma de AgCl3) e o
precipita, do lado de fora da célula, formando pepitas de ouro (gold nuggets).
Dessa forma, os pesquisadores acreditam que demonstraram que algumas formas de
ouro encontradas na natureza podem ter origem bacteriana. Esse seria
um exemplo de “biomineralização” de ouro que nesse caso é a transformação de
íons de ouro solúveis, que são tóxicos, em precipitados de ouro em forma de
pepitas que não causam danos ao metabolismo bacteriano.
O resultado do desafio: Em primeiro
lugar eles fizeram uma separação entre “ouro geológico” e o “ouro biológico”
(eles mesmos deram esse nome). Eles acharam que embora o ouro biológico
poudesse ter uma valor menor no mercado de jóas, talvez tivesse aplicação em
equipamentos médicos, científicos ou eletrônicos que utilizem ouro. Outras
aplicações já estavam no texto, como utilizar essas bactérias para remover
metais tóxicos de amostras contaminadas.
Mas meu desafio continua o mesmo,
como vamos fazer para ficarmos ricos com as bactérias do ouro? O que eu vou
fazer com meu dinheiro? Simples, vou seguir o exemplo de um professor meu, ele
disse que se ganhasse na quina ia dar bolsas de estudos para alunos de pós
graduação. Eu faria o mesmo, mas para quem tivesse projetos criativos na área
de microbiologia.
Para fixar:
1. O que é um
biofilme? Porque bactéria são mais resistentes a antimicrobianos quando estão
em biofilmes? Biofilmes podem conter mais de uma espécie de bactéria?
2. O que são
bactérias extremófilas? Cite três exemplos de extremófilas e os ambientes nos
quais podem ser encontradas.
3. O ouro na
natureza é mais encontrado nos estados de oxidação Au(I) e
Au(III). Qual a forma mais oxidada?
4. C.
metallidurans pode acumular ouro dentro da célula em forma de
grânulos, cite outros dois tipos de grânulos que podem ser encontrados em
bactérias.
5. A afirmação
a seguir é incorreta, explique. “Um tipo de grânulo encontrado na célula
bacteriana é o núcleo que contém o genoma da célula procariótica.”
6. O que é
biomineralização?
Para pensar:
- Você acha que existe um ciclo biogeoquímico do ouro?
- Como você imagina que a humanidade pode usar esse conhecimento?